O vinho da Altitude Catarinense é caro?

04/08/2020 00:26:05

Por Everson Fernando Suzin


Por que o vinho da Altitude Catarinense é considerado “caro”? Inicialmente vou expor meu ponto de vista, a minha visão de como as coisas acontecem neste meio; porém sem nenhuma pretensão de ser o dono da razão e muito menos que o leitor concorde comigo. Abordarei o custo de produção da uva atualizado e baseado na minha experiência.


Desde o início do processo encontramos dificuldades. A escolha de uma área a ser implantada em nossa região é o primeiro desafio. Nossos terrenos têm em média de 25 a 30% no máximo de aproveitamento para o plantio, seja de videiras, macieiras...enfim, atividade agrícola.


Além desta pequena porcentagem, vamos encontrar ainda, muitas pedras no terreno e algumas “lajes”, que devido ao seu tamanho e impossibilidade de serem retiradas precisam ser aterradas, o que eleva o custo por hectare em até R$20.000,00 só com trator de esteira e movimentação de terra, sem contar os outros custos como calagem e adubações, que são considerados padrão.


Bem, estamos com a área pronta, limpa de pedras e a correção do solo devidamente feita, partimos então para o plantio. O custo deste não muda praticamente em nada, se comparado com outras regiões. Não utilizamos máquinas, mas como nossos plantios são pequenos, não justifica o investimento e, devido as mesmas pedras, conforme citado anteriormente - que sempre sobram escondidas - não teremos uma eficiência muito boa. Existem vários sistemas de plantio, mas o mais utilizado no mundo todo quando se busca a qualidade em primeiro lugar, é o sistema de espaldeira “cerquinha”, nele conseguimos ter uma planta mais equilibrada, com melhor circulação do ar, melhor exposição solar e melhor relação folha/fruto, essenciais para a qualidade.


Na maioria dos vinhedos, talvez 100% (não posso afirmar), os tratos culturais são feitos todos de forma manual, o produtor que realmente prima pela qualidade, vai fazer durante o ciclo vegetativo: pré-poda, poda seca, três desfolhas, duas a três conduções dos ramos, raleio de cacho e até bagas, dependendo o ano, desponte quando necessário, colheita seletiva, controle das ervas daninhas, de preferência mecanicamente e alguma reposição de nutrientes quando necessário. Estas práticas por mim citadas, podem ser feitas quase todas por máquina, porém, a máquina não vai selecionar para deixar a folha de fora e retirar a de dentro do dossel para melhorar a ventilação interna da planta, não vai controlar para deixar vinte gemas por planta na poda seca, não vai saber marcar qual o cacho que está mais atrasado... Enfim, estas são coisas que por maior que seja a tecnologia, não substituem o homem.


A produtividade é outro fator que reflete diretamente na qualidade e no custo da uva. Há uma vertente que diz que quanto menor a produtividade, maior a qualidade. Discordo plenamente, para mim a videira tem que estar equilibrada para o vinhedo ter longevidade e produzir uvas sãs e maduras. Este equilíbrio vai depender muito do tipo de solo, profundidade, espaçamento, condução. São muitas variáveis, mas falando de uma forma bem genérica, em torno de cinco toneladas por hectare considero um valor médio aceitável. Temos em nossa região, alguns produtores que não produzem nem perto disso, seja por questões estratégicas ou técnicas, produzem menos e por outro lado, tem regiões distantes daqui que produzem até quinze toneladas por hectare. Entrei um pouco nesta questão técnica, para o leitor entender a diferença que existe entre um vinhedo de nossa região, comparado com os vinhedos “padrões”, lógico, isto que estou falando não é regra, é uma média, há vinhedos e vinhedos em ambos os casos.


Baseado no que foi relatado, podemos afirmar que gastamos mais no implantar, temos áreas menores dificultando ou impossibilitando a mecanização e, por consequência, gastando mais com mão de obra e de quebra, uma produtividade mais baixa, tendo um custo por kg de uva produzido bem mais alto que outras regiões. Por outro lado, conseguimos colher uvas sãs e maduras, com elevado teor de açúcar natural, com grande concentração de taninos, material corante e polifenóis, nos possibilitando elaborar vinhos estruturados, potentes, elegantes, ricos em aromas e sabores. Na próxima edição, vou falar da segunda etapa que envolve a vinificação e emprego de materiais utilizados de acordo com a proposta de cada vinícola, que pode variar em até 400% de diferença como no caso da garrafa.


Um abraço e até lá!